Enfermeiras de Lages realizam trabalho preventivo à HIV com profissionais de sexo

10.03.2025

O Programa de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) da Vigilância Epidemiológica de Lages iniciou, em 2023, um trabalho de prevenção e acompanhamento à saúde sexual das profissionais de sexo do município, liderado pelas enfermeiras Débora Bastos e Watuse Luiz Costa, que contam de uma equipe formadas por outras enfermeiras, técnicas de enfermagem e 1 médica.

A força-tarefa começou quando as enfermeiras identificaram a demanda crescente das profissionais do sexo pelos serviços de saúde após contaminação pelo vírus HIV, algumas já com quadro avançado.

A principal queixa feita pelas mulheres ao chegar no posto de saúde era a dificuldade de manter uma rotina de exames e tratamento devido ao horário de trabalho noturno, que iniciava às 20h e podia chegar às 12h do dia seguinte. O restante do dia era dedicado para o descanso, e assim as trabalhadoras adiavam ir a ida ao médico até o agravamento da doença.

Em 2023 foram notificadas em Santa Catarina 756 mulheres com HIV, sendo 62 na serra catarinense, região de Lages. Ao todo, 369 mulheres foram notificadas com AIDS em todo o estado catarinense.

Para amenização do caso, as enfermeiras Débora e Watuse começaram a incentivar e conscientizar essas mulheres sobre o uso da PEP (Profilaxia Pós-Exposição ao HIV) e da PrEP (Profilaxia Pré-Exposição ao HIV), medicamentos preventivos ao vírus, e deram início às visitas noturnas no local de trabalho das profissionais.

A PEP pode ser acessada no Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) da Vigilância Epidemiológica e na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), 24 horas por dia e de forma gratuita, por meio do SUS, até 72 horas após a exposição ao HIV. A PrEP é fornecida apenas sob prescrição e orientação das enfermeiras.

Débora e Watuse explicam que o trabalho começa quando a equipe de saúde entra em contato com os donos dos estabelecimentos em que as profissionais do sexo trabalham, para agendar uma noite dedicada aos atendimentos. As visitas acontecem três vezes ao ano em cada estabelecimento, com duração de cerca de quatro horas, tempo suficiente para que todas sejam atendidas e orientadas.

“Quando possível, organizamos o espaço em três ambientes: um para o teste rápido e consulta médica, outro para exames preventivos ou agendamento, e o terceiro para uma conversa individualizada sobre PEP e PrEP, esclarecendo dúvidas, incentivando e oferecendo informações sobre prevenção”, afirmam as enfermeiras.

São ofertados métodos contraceptivos como pílula do dia seguinte, pílula anticoncepcional, anticoncepcional injetável mensal ou trimestral e, até mesmo, fazem o encaminhamento para inserção de DIU e laqueadura. Além dos casos de HIV, a equipe também atende outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), como a sífilis.

O principal desafio da equipe de saúde é a aceitação das profissionais do sexo. Muitas ficam receosas em realizar os exames e conversar sobre prevenção, mas se tornam mais receptivas após o início do atendimento e do diálogo. Em todas as ações realizadas, o alcance é de 100% de participação.

O Conselheiro Junior Wolff esteve presente em uma das visitas da equipe de saúde. Presenciou o atendimento de 13 mulheres e a realização de 13 testes rápidos e 8 preventivos.

“É importante, como conselheiro, estar próximo de todas as áreas de atuação da enfermagem e mostrar que o conselho quer enaltecer o trabalho incansável e indispensável da enfermagem e também na promoção da saúde”.

“O maior impacto desse trabalho na vida dessas mulheres é, sem dúvida, a prevenção. É alarmante constatar que 99% das profissionais atendidas nunca ouviram falar sobre PEP e PrEP, além de estarem com exames atrasados ou nunca realizados. Nosso trabalho visa conscientizar, prevenir e oferecer cuidados essenciais a esse grupo, impactando positivamente sua saúde e bem-estar”, afirmam.

Muitas trabalhadoras relatam que nunca haviam recebido um serviço de saúde diretamente no local de trabalho, o que torna o atendimento ainda mais significativo para elas, segundo Débora e Watuse. Os agradecimentos às duas são constantes, e muitos solicitam que o serviço continue. “Elas reconhecem a importância da oportunidade de ter acesso à saúde de forma acolhedora e eficaz”.