Técnico de Enfermagem faz greve de fome pela aprovação do piso

O técnico de Enfermagem está em greve de fome há dois dias

André Prazeres não pretende parar de fazer manifestações até que o PL 2564/2020 seja aprovado

Na semana passada, a figura de um senhor de jaleco com um imenso um cartaz na entrada da Câmara dos Deputados chamou a atenção de quem passou por ali. André Prazeres, técnico de Enfermagem do Hospital Estadual Ricardo Cruz, em Nova Iguaçu (RJ) veio à Brasília para apoiar a aprovação do piso da Enfermagem.

Segurava um cartaz com os dizeres “Estou em greve de fome até o congresso votar nosso piso salarial.” Ele conta que não vai desanimar. “Sofremos todo tipo de preconceito, assédio moral e seguimos em amor à nossa profissão. Com a pandemia, mostramos o nosso valor. Sacrificamos as nossas próprias vidas para cuidar de tantos. Agora, é mais do que justo que olhem por nós,” conta.

André atua como técnico de Enfermagem há duas décadas. Recentemente, iniciou os estudos na faculdade do curso superior de Enfermagem. Possui um salário de R$ 1.900,00 e declara que vai permanecer na luta, até a aprovação do piso. “Enquanto eu estiver em Brasília vou permanecer em greve de fome.”

O técnico já esteve no Distrito Federal em duas ocasiões, para manifestações também em prol da aprovação do PL 2564/2020 e também no Dia Nacional de Luta pela Valorização da Enfermagem em defesa do Piso. Ambas as vezes, ele viajou com auxílio do sindicato. Mas esta semana, ele conta que viajou por conta própria. “São muitas as dificuldades do profissional de Enfermagem. Tudo é mais sofrido. Mas, mesmo assim, tirei o dinheiro do meu próprio bolso para vir dar o meu apoio. Precisamos que o projeto saia do papel.”

O PL foi aprovado em novembro passado por unanimidade no Senado, mas ainda deve passar por pelo menos duas comissões. Esta semana, foi a vez da Comissão de Seguridade Social e Família formar audiência pública para discutir o piso nacional dos enfermeiros, dos técnicos, auxiliares e parteiras.

O piso salarial do enfermeiro deve ser fixado em R$4.750, técnicos deverão receber, no mínimo, 70% desse valor e auxiliares e parteiras, 50%. Os valores deverão ser reajustados anualmente, com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC),“Não podemos mais aceitar que milhares de profissionais de Enfermagem sejam obrigados a trabalhar 44 horas por semana, as vezes com menos de um salário mínimo, sem os insumos e sem proteções,” reclamou André.

Situação atual – No setor público, 14,4% de profissionais de Enfermagem ganha somente R$ 1.000,00 por mês e 45% ganha, no máximo, R$ 2.000,00. No setor privado, 23,1% recebe apenas R$ 1.000,00 e 31,9% recebe até R$ 2.000,00 mensais. Para 66%, o exercício da profissão é desgastante. A jornada de trabalho varia entre 41 e 60 horas semanais para 24,7% dos profissionais e 13,9% trabalham entre 61 e 80 horas por semana.

Cerca de 200 mil profissionais fazem plantões ou atividades extras para complementar a renda familiar. A taxa de desemprego atinge mais de 10% da categoria. Segundo pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o rendimento médio dos profissionais da categoria teve redução de 11,8% durante o período que corresponde ao 4º trimestre de 2019 e de 2020. Neste mesmo intervalo de tempo, o rendimento médio real no Brasil teve encolhimento de 1%.