20 de novembro: Dia da Consciência Negra

Há 322 anos, Zumbi dos Palmares, considerado o maior ícone de resistência negra à escravidão no Brasil, era assassinado. Em sua homenagem, o dia 20 de novembro foi instituído como o Dia da Consciência Negra. O Coren/SC apoia a luta que a data representa.

Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar.

 

Algumas pessoas criticam a data, apoiando sua substituição pelo “Dia da Consciência Humana”. Pois é, um mundo ideal baseado na igualdade é o que todos queremos, mas não é o que de fato existe. O que há é o “mito da democracia racial”, falsa ideia de que a miscigenação proporcionou plena harmonia racial em nosso país.

O racismo não deixou de existir após a proibição da escravidão no Brasil. Há quem diga, ainda, que ele até existe, mas de forma velada. Vamos refletir então: os dados abaixo soam velados para você?

60% da população carcerácia do país é negra

77% dos 30 mil jovens assassinados no Brasil são negros

63,7% dos desempregados no Brasil, no terceiro trimestre deste ano, são negros

Negros recebem, em média, quase a metade do rendimento médio dos brancos

A taxa de analfabetismo é duas vezes maior entre os negros

Quantos professores negros (as) você teve na escola? E na universidade? Quantos protagonistas negros você viu em novelas? Em quais momentos você leu sobre os negros quando estudou história no ensino básico?

Demonstrações de ódio racial nas redes sociais também são frequentes hoje em dia. Quem lembra do caso da Maju Coutinho, jornalista do Jornal Nacional, que foi ofendida na internet por ser mulher negra? O computador encoraja manifestações dos sentimentos mais perversos que um ser humano pode ter, já que permite o anonimato e a falsa identidade. Porém, o questionamento é: se esse tipo de ódio foi manifestado, é porque existe. E se existe, por que não combatê-lo ao invés de fingir que nosso país vive em harmonia racial?

No Brasil, os negros sofrem não só a discriminação racial devida ao preconceito racial e operada no plano privado, mas também e sobretudo o racismo institucional, que inspira as políticas estatais que lhes são dirigidas e se materializa nelas”, palavras da socióloga Márcia Pereira Leite.

 

Um pouco da história

Aprendemos na escola que a princesa Isabel foi uma pessoa muito gentil quando assinou a lei Áurea, no dia 13 de maio de 1988. Na realidade, a abolição da escravatura foi um fator puramente econômico, uma vez que a Inglaterra já se desenvolvia enquanto pioneira da Revolução Industrial e, dentro do novo modelo que surgia, não havia espaço para o sistema escravocrata.

“A luta do abolicionismo foi uma luta de exploradores ricos industriais capitalistas que se revoltaram contra os exploradores ricos rurais escravagistas”, aponta a professora e filósofa Angela Davis, em seu livro “Mulher, raça e classe”.

Após a abolição, não houve nenhuma forma de indenização aos negros e negras. Essas pessoas se viram à margem da sociedade, sem possibilidade de recomeçar suas vidas de forma livre e digna. Os que não pediram para retornar às casas onde haviam sido escravizados rumaram às periferias das cidades, já que os centros eram habitados pelas pessoas brancas – e em sua maioria ricas.  Assim surgiram as primeiras favelas.

Na favelas de São Paulo, em 2016, 70% de seus moradores eram negros, segundo dados da organização social TETO Brasil. Além disso, pesquisa recente do IBGE apontou que 76% dos mais pobres no Brasil são negros.

Existe uma dívida histórica a ser quitada. O primeiro passo é reconhecer esse passado e relacionar esses fatos ao presente. Nada é por acaso e cada injustiça cometida hoje tem suas raízes na história do nosso país. Reconhecer a importância simbólica de uma data como o 20 de novembro é afirmar que o racismo ainda existe e que a luta contra ele continua.

 

Filmes, livros, séries…

hidden-figures

  1. A história dos negros tem muitos momentos de vitória, ainda que várias delas não sejam divulgadas e reconhecidas. O filme “Estrelas Além do Tempo”, que foi aos cinemas neste ano, conta a história real de três cientistas negras da NASA que tornaram possível a primeira viagem pela órbita terrestre.
  2. Se você é daquelas pessoas que amam um seriado, que tal aproveitar para refletir sobre privilégios e preconceitos? “Cara gente branca”, disponível na Netflix, é uma excelente indicação, não importa se você é negro ou branco. Refletir nossos papeis sociais e desconstruir racismo em nossas falas e ações é fundamental.
  3. Para os amantes de literatura, eis um dos mais aclamados livros do século XX: O Sol é para Todos, da escritora Harper Lee. Comovente e emocionante, a obra traz temas como justiça e tolerância.

 

* Com informações da matéria “A pobreza brasileira tem cor e é preta” do jornal Nexo.